sexta-feira, 7 de maio de 2010

Osso duro de roer

Um dos meus trabalhos consiste em escrever sobre gastronomia, como já disse aqui. E sempre me exclama no rosto o tanto de analogias que dá pra gente fazer entre vida e comida, vida e bebida, comida e gente. Vida e enfins, enfim. Hoje me veio esse texto delicioso pra fazer sobre um menu de carnes com ossos que o restaurante La Casserole, templo absoluto do que eu chamo de cozinha francesa de verdade aqui em São Paulo, vai lançar em breve. Vem bla, vai bla, surge a seguinte afirmação: toda carne próxima do osso, quando cozida lentamente, ganha em sabor, maciez e personalidade, produzindo resultados inegavelmente mais poderosos. Por isso os caldos, numa cozinha que se preze, são feitos a partir de ossos e carcaças – e daí vêm os caldos restauradores, que renovam nossas energias porque trazem a “força dos ossos”.


Pois bem, fico aqui me indagando sobre o quanto o filé mignon da vida não fez de mim uma banana. E sobre o quanto, de fato, só me transformo em mulher forte quando a vida é osso. No meu caldo restaurador, andam boiando umas dezenas de ossinhos velhos e alguma carcaça bem pesada dos fantasmas que atropelam meu bem-estar. Mas bem-estar é filé mignon, most of the time. Talvez continuasse a ser uma banana split, sem bolas ou cobertura, se a vida não tivesse lá seus ossos. E acredito muito na sabedoria da chef e dona do La Casserole, mais baseada em fatos milenares do que a minha – "cozinhe com osso, minha filha, cozinhe com osso. Você vai sair dessa muito mais forte e muito mais gente do que entrou".

4 comentários:

  1. Acho que a sabedoria milenar dos ossos é sempre algo a ser escutado. Nos ossos os xamãs buscam suas verdades, e nunca ouvi falar de mãe-de-santo que jogasse sorte com filé mignon... mas tome cuidado para não encontrar ossos onde não tem, ok?

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  2. Osso pra enfrentar a vida, banana split pros pequenos problemas... Consistência e leveza, um meio termo é difícil, mas não impossível!
    O grosso do caldo deixa forte, o colorido da cobertura e os pequenos confeitos fazem bem.
    Não entornando o caldo, tá tudo beleza!!
    Beijos
    =*

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Para o Fi: amei a mãe-de-santo jogando sorte com filé mignon. Rararara. Pro resto, é aquilo que já te disse: uns gostam dos olhos, outros da remela. Hã?! Pergunta pra sua bisavó que cazzo ela queria dizer com isso!
    Para a Fabi, minha linda leitora nova, mãe já sabida de uma pré-adolescente: a mãe aqui confia no savoir-faire da mãe aí e vai encontrar o meio termo entre o osso e a banana. Isso é uma promessa.

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