quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dos aprendizados


Faz uns poucos meses, Isminha entrou na era dos desenhos animados. Michael Jackson finalmente descansou em paz para dar lugar a Batman, Homem Aranha, Kung Fu Panda, Toy Story e A Pequena Sereia. Enquanto nossa DVDteca aumenta a passos largos e a gente contribui cada vez mais para o crescimento da indústria da pirataria (porque não há bolso que agüente alimentar o imaginário infantil quando o assunto é desenho animado original longa metragem), ficam alguns aprendizados:

- Até achar um box de desenhos do Homem Aranha que me parecem perfeitamente inofensivos, o pai sentava com o menino para assistir a algumas versões assustadoras de Batman. Cabeças degoladas, sangue, tiros, porrada, braços arrancados, mais sangue, trilha sonora mórbida, sangue e sangue. Saio do banho e tá o pequeno tenso, apertando a mão do pai, os olhos vidrados na TV. Lição 1: não, não dá pra ver desenho de gente grande a partir dos 2 anos de idade. A criança fica mesmo HORRORIZADA.

- Os desenhos da Disney moderna são todos “inhos”: lindinhos, fofinhos, engraçadinhos e politicamente corretinhos. Aí decidi comprar o Pinóquio, só pra relembrar minha infância e ver se o Isminha gostaria tanto quanto eu gostava. Pois bem. Acho que a Disney antiga NUNCA passaria pela nota de corte da nova. Durante o filme, cujo ritmo é devagar-quase-parando, o simpático Pinóquio fuma charuto, bebe cerveja e ainda amarra uma pedra no pé pra pular no oceano em ato suicida a fim de resgatar o Gepetto, que foi engolido por uma malvadésima e monstruosa baleia azul (sim, aquela que, sabemos, não faz mal nem a piolho). Lição 2: na nossa época - o saudoso século passado -, politicamente correto de cu era rola. Lição 3: acho que entendi por que sempre fui fumante e bêbada. E, once again, espero que meus filhos tenham mais critério do que eu.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Brusca poesia da mulher cansada

Enquanto um dorme no carrinho
O outro escreve poesias em danoninho
Viva que pintamos as paredes de azul!

"Deve ser isso que chamam de felicidade"
Dizem as olheiras fundas de uma mãe sem sono
Sem vaidade.

Tenho preguiça de fazer versos e contar sílabas
E preguiça maior ainda de lembrar das regras de rima
Penso dez, quinze, mil vezes na lista exígua do aniversário.
Olha que tenho tanto a comemorar.
Isminha fez dois anos - ninguém sabe, ninguém viu,
Tom nasceu, pegou meningite, internou, voltou inteiro - ufa. Quem foi que soltou essa bufa?
Foi Domingos, o maltrapilho. Tá sendo adestrado, quatrocentos merréis por mês.
Ismael trabalha dia e noite, noite e dia. O que tem pra jantar, Dona Maria?

Eu fico assim, Homem Aranha numa mão, pequeno faminto noutra.
Vinte e nove anos. Vinte e nove anos, ela diz!
Nunca pensei que pudesse ser tão feliz.
Nunca pensei que pudesse ser feliz.

Penso na minha mãe, lá embaixo da terra. A essa hora já deixou de ser pele e osso pra ser só osso e roupa.
Não me lembro com que roupa a enterrei, mas lembro que foi de tênis.
Porque ela andava pra cima e pra baixo de tênis
E porque o pai dela, meu avô, era igual.
Daí meu cachorro vadio ganhou o nome dele
Porque é peludo igual - mas meu avô não tinha pedigree.
"Ponto pra ele!", diz meu marido, do alto da cadeira de juiz
E eu nunca pensei que pudesse ser tão feliz.

Do alto da cadeira, as bolas passam
Os dias passam
As amizades passam.

Meu deus, onde foi que eu errei?
E passa a lista...
.
.
.
.
.
.
.
.

Caralho, meu deus. Só perguntei por perguntar.
Ainda bem que não acredito em você.

Tom dorme no carrinho, Isminha no sofá.
E o brusco silêncio que invade a casa dá vontade de chorar.

sábado, 4 de setembro de 2010

IN NATURA

Dos pequenos momentos que fazem a vida valer a pena.

Erramos - Da Redação: nessas situações, é delicadíssimo usar a palavra "pequeno", mesmo que não tenha absolutamente nenhum trocadalho do carilho ou má intenção por parte da mãe aqui. Desculpa, filho. Troquem "pequenos momentos" por "bons momentos", por favor. Não quero pagar terapia vitalícia!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Os 8 meses e o SPAM


Tem hora que meu estômago vira. Aos 8 meses de gravidez, tenho cada vez menos SACO pro mundo. O pouco que tenho reservo pra quem merece – meu marido, que deu pra reclamar por hooooras da empregada que vê novela na TV da sala e come todo o doce de leite do pote, ou de mim, quando deixo de ir ao caixa automático do banco às oito da noite pra ir às oito da manhã (como se isso fizesse qual-quer diferença, em termos práticos, para qual-quer transação que precise ser feita – afinal o banco só abrirá às dez, faça chuva ou faça sol, É OU NÃO É?!); meu pequeno filho, cujos nem 2 anos de vida ainda lhe dão o direito de deitar e rolar sobre meu cansaço e minha irritação de gestante sem ar até a beira da meia-noite; e minha avó, que me atira farpas diárias de espanholice – seja porque eu faço tudo errado, seja porque tudo na vida tem um lado triste e ruim (e é esse que ela vê quando você conta qualquer novidade), seja porque ela insiste em te fazer mudar de ideia com relação a assuntos que são vitais e já estão mais do que decididos.

Pois bem, eles merecem, então eu respiro fundo e, Dios mio, não perco a ternura. E a mim já parece paciência suficiente, visto que tenho me movido como uma lontra gorda até pra mudar de posição na cama e sentido dores lancinantes nas costas toda vez que pego meu filho no colo ou luto pra colocar a coleira no Domingos, the fuckin’ mad dog; visto que tenho trabalhado em dobro pra poder ter ao menos uns dias de “tranqüilidade” pra cuidar de tudo que precisa ser cuidado antes da chegada do caçula; visto que todos os poréns das nossas vidas continuam pairando na cabeça e fazendo um peso filho da puta, sem que no entanto eu consiga tomar resoluções – e assim vou perdendo espaço pro tempo, pro silêncio, pros sem-noção e pra quem parece ter ainda menos paciência que eu.

Então não me venham falar merda. Não me tragam mais problemas e MUITO MENOS mensagenzinhas subliminares que falem de respeito ao ser humano, olhar para o próximo e o caralho. MUITO MENOS se tais mensagens vierem de gente que, eu bem sei, passa por cima do ser humano como se fosse COCÔ quando o assunto é o próprio umbigo (remodelado ou não). Deleto e ainda classifico como SPAM. Mirem que genial, by Wikipédia: “O termo Spam, abreviação em inglês de “spiced ham” (presunto condimentado), é uma mensagem eletrônica não-solicitada enviada em massa. Na sua forma mais popular, um spam consiste numa mensagem de correio eletrônico com fins publicitários. O termo spam, no entanto, pode ser aplicado a mensagens enviadas por outros meios e em outras situações até modestas. Geralmente os spams têm caráter apelativo e na grande maioria das vezes são incômodos e inconvenientes.”

Por essas e outras é que eu adoro a Wikipédia. E por essas e outras, no pré e no pós-parto, é que pretendo levar o conceito de SPAM às últimas consequências, na minha caixa de e-mails e na VIDA. Se me incomoda e me é inconveniente, VAI PRA PORRA DA LATA DE LIXO, sem dó nem compaixão. Porque de boas intenções o inferno tá cheio – e o meu já tá rolando na terra mesmo, em plena luz do dia, durante os anos que deveriam ser os melhores, pra todos os efeitos e apesar de tudo. Então me poupem os ouvidos e o estômago, se quiserem ser poupados da foice da rainha vermelha, ainda mais em tempos de erupção. E cortem-lhe a cabeça!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Crepúsculo que nada - meu negócio é a vampira Eli.

VIDEOTECA DA MULHER GRÁVIDA


Deixa ela entrar

Categoria: terror dramático teen vampiresco da melhor qualidade

País/ano: Suécia, 2008

Duração: 114 minutos


Todo mundo que tem um aborrecente em casa sabe que a onda agora é aquela história toda de vampiros. Principalmente se for UMA aborrecente, pois me parece que, bem mais que os meninos, as garotas é que estão nessa pra valer.


Na época do Harry Potter e suas intermináveis seqüências, não dei a mínima - até porque não tinha sombra de filho nem no calcanhar ainda e, convenhamos, estava muito mais atenta às novas marcas de cerveja do mercado do que à literatura/filmografia teen. Mas agora esses movimentos me chamam a atenção, por motivos óbvios. Então lá fui eu comprar um piratinha pra me inteirar dos porquês das unhas pretas, franjas escorridas em cima dos olhos e aquele quê lúgubre-afetado da galerinha under-15. Ainda não tive coragem de gastar meus 5 reais com Crepúsculo, mas apostei as fichas num filminho sobre o qual tinha lido qualquer coisa umas semanas atrás. Pois bem, amigos: se vocês forem pais de alguma pré-adolescente em dura fase de auto-descoberta (e sei que pelo menos 3 dos meus leitores mais assíduos o são), não sei o que ainda estão fazendo na frente do computador. Deixem ela entrar - assim mesmo, sem hífens nem regras castiças. Porque o filme é foda, triste, sangue nos olhos e desobediente a qualquer regra de boa convivência. Igualzinho à sua filha.


Depois dos 10 primeiros minutos, você já entende por que é que esse mundo vampiresco tem tanto apelo pra molecada. E você entende justamente porque, apesar de não ter lá tanta lembrança no seu cérebro capenga, seu coraçãozinho tem uma memória de elefante e te conta que você já passou por isso e se sentiu do mesmo jeito, ou até pior, quando foi a sua vez. Entrar na adolescência é descobrir a solidão - e não há pai ou mãe, por mais carinhosos e presentes que sejam, que salvem a gente disso. O sentimento de que você tá sozinho no mundo é tão forte e tão grande e tão arrasador que você se tranca a sete chaves, achando que a vida vai acabar. Então, já no começo de "Deixa ela entrar", você vai sentir vontade de sair correndo, arrombar a porta sagrada do quartinho de sua pré-adolescente e dar um abraço, lágrimas escorreeeeendo pelo rosto: "calma, filhota! Mamãe tá aqui!". Mas não faça isso. Pelo menos veja o filme até o fim.


Numa Suécia gelada e quase preta e branca da década de 80 (salva pelo gongo das blusas de lã coloridas), um menininho de 12 anos chamado Oskar, loiro e pálido feito pão Pullman, sofre com a maldade dos colegas filhos da puta na escola. Ele sonha em enfiar a faca no líder da micro-gangue, ensaiando a cena e o discurso sempre que se vê sozinho, por vezes e vezes a fio. E ele é tão só e tão quietinho dentro dessa solidão que você já fica com um nó na garganta e vontade de estripar a molecada com suas próprias mãos. Sei lá, tem adulto que é sangue frio, mas eu sinto um arrepio na espinha só de pensar no meu filho passando por uma dessas. E acho que o Ismael teria que sumir com todas as minhas facas de cozinha, não por causa do pequeno, mas da mãe.


Mas eis que surge na vidinha de Oskar uma amiga. O nome dela é Eli. Tão pálida quanto ele, mas com um plus cadavérico, ela aparece sempre do nada e nunca sente frio. Eli é uma vampira - coisa que a gente sabe desde o começo, em cenas pra lá de sanguinolentas e agressivas, mas que o protagonista só vai sacar lá pelos 2/3 de filme transcorridos. E a amizade, que começa tímida e silenciosa como os dois, logo fica forte - tão forte que vira paixão. Eli é capaz de comer chocolate por amor a Oskar, apesar de vomitar depois como se tivesse engolido veneno de rato, e Oskar é capaz de acobertar assassinatos por Eli, apesar de ficar horrorizado com o que seus olhos presenciam. Num mundo em que os adultos são seres totalmente alienados e as crianças estão desprotegidas de toda a maldade que vem de fora, eles se encontram e vivenciam - ele pela primeira vez, ela pela enésima, em sua vida milenar - a solidão a dois.


Gente, o filme é maduro, triste até o talo, cheio de delicadezas mortais que fazem a gente tremer na base. Mas ajuda a, mais do que entender, lembrar o que é passar pela adolescência. E ela passa, todos nós sabemos (menos para Eli, que vai viver isso até alguém enfiar uma estaca no seu peito de canibalzinha). Só que nossos filhos não sabem, afinal pra eles isso tudo é pra sempre e os anos ainda estão muito lá longe, tão longe que parece que nunca vão chegar. Então ok para as unhas pretas e os rocks emo mela-cueca; ok para a febre por tramas vampirescas e horas a fio de rebeldia e portas de quarto trancadas. Entender e aceitar a própria solidão é tão importante quanto descobrir, daqui a pouco tempo, que é gostoso pra dedéu sair dela. É daí que eles abrem a porta e deixam a gente entrar - de novo, e sempre. E é daí também que vão surgir outros problemas, tipo baladas, sexo sem camisinha, bebedeiras, companhias de-fo-der. Nossa. Que saudade dos tempos da aborrencência solitária.

domingo, 27 de junho de 2010

Tiramisù de hoje em diante

Na maior parte das vezes a gente cozinha pro dia-a-dia da casa, que não tem parada. Crianças têm fome e horário pra comer - e se você, antes da maternidade, era daquelas que pulavam refeições ou engoliam qualquer tranqueira quando o estômago roncava, agora precisa manter uma geladeira sempre cheia de alimentos frescos e não engana mais ninguém: pro seu bebê, a hora do almoço é a hora do almoço, não importa se você tá de TPM ou se um maremoto engoliu a Oceania e metade do Japão.

Tem também as vezes em que a gente cozinha pra se divertir, juntar os amigos, bater papo e inventar desculpa pra acabar com duas garrafas de vinho antes mesmo de pôr a mesa. Noutras tantas, botar a mão na massa e encostar o umbigo no fogão é um momento só seu, que serve mesmo pra refletir. Chorar um pouco, tomar decisões importantes. Precisa pedir um empréstimo no banco, demitir alguém, pensar num rumo novo pra sua vida? Nada melhor do que escolher uma receita longa, sovar, picar bem miúdo, sentir o perfume das folhas verdinhas sambando no azeite quente.

E tem vez em que a gente cozinha pra pedir perdão.

Nessas horas, vale comprar um ramo bonito de gérberas e ajeitar naquele vaso que você nunca usa, pra deixar a casa com ares de primavera chegando (mesmo que a fiadaputa da sua gata vá destruir tudo em menos de 10 minutos, largando um cobertor de pétalas laranjas espalhadas pelo chão enquanto você se distrai com a batedeira ligada).

O que importa é que cozinhar com carinho também é um jeito de se fazer perdoar - ou pelo menos tentar. É que, de hoje em diante, você não quer mais repetir erros antigos. De hoje em diante, quer que a casa seja um bom lugar pra se voltar. O perdão talvez venha antes mesmo de a receita ficar pronta. Talvez chegue só daqui a um tempo, quando o gosto amargo das cagadas e até mesmo o doce do bem-intencionado pedido de desculpas tiverem virado só lembrança. Mas, de hoje em diante, venha como vier, o perdão precisa ter algum gostinho bom. De hoje em diante, aqui pra nós, ele brinca na memória fantasiado de tiramisù.

A RECEITA*

*Adaptada do lindo, fantástico e necessário livro O Cinema Vai à Mesa - Histórias e Receitas, de Rubens Ewald Filho e Nilu Lebert, publicado pela Ed. Melhoramentos

É hora de enfiar a faca no peito: comida de perdão pode custar caaaaaro... No caso de um bom tiramisù, não adianta nem começar se você não estiver disposta a gastar uns fartos reais pra ter à mão os ingredientes certos, daqueles que você só encontra em empórios. Também vale o bom e velho Pão de Açúcar, na versão gourmet-afrescalhada que se espalha por aí (e que pra mim é sonho de consumo: vou saber que estou rica não quando tiver um puta apartamento na casa do caralho ou um closet cheio de sapato caro pra quem só tem dois pés - e vai morrer com o mesmo tanto de dedos, por mais que cague ouro; vou saber que estou rica, isso sim, quando puder fazer minhas compras sempre no Pão de Açúcar, enchendo a dispensa e a geladeira cotidianas de frutas e hortaliças tão lindas que até dá dó comer, cogumelos de tudo quanto é jeito, potes de palmito Hemmer, chocolatinhos que fazem subir o branco dos olhos, patê de foie gras trufado e queijos, muito queijos, pra comer no café da manhã, no lanche, no aperitivo, no meio da madrugada... Até pra ralar em cima do miojo, se essa for minha rica vontade!).

Bão, digo tudo isso porque alguns ingredientes do tiramisù são foda de caros: o mascarpone (queijo cremoso italiano que também é fabricado no Brasil - mas que nem por isso deixa de ter preço de mulher virgem), os biscoitos amaretto (aí não sei se eu que não conheço uma Dona Marta que vende isso baratinho, então tive que apelar pros italianos que se exibiam na prateleira do supermercado) e o conhaque (rola usar Domeq? Até rola, mas que um Three Barrels faz muito mais sentido, faz. Até porque dá pena fazer tudo direitinho pra no final mergulhar as bolachas de champanhe no Domecão nosso de cada dia. MAIS BON, s'il le faut, il le faut!).

De resto, é tudo fácil de achar, barato e besta de fazer. Chega de blablabla e vamos ao que viemos, sim?

UTENSÍLIOS NECESSÁRIOS:

- Batedeira
- Forma (o doce só vai pra geladeira, então não precisa ser refratária nem nada)
- Peneira
- Recipientinhos e recipientões para as misturas do meio da receita

INGREDIENTES:

- 7 ovos (claras e gemas separadas)
- 100g de açúcar
- 300g de mascarpone (eu usei 350g pra acabar com o pote, senão ia ficar rolando na cama à noite sem saber o que se faz quando sobram 50g dessa porra e acabaria passando no pão!)
- 100g de biscoitos amaretto (os que eu comprei são da marca Vicenzi e se chamam Vicenzino - Amarettino d'Italia)
- 180 ml de café quente e bem forte
- 40 ml de conhaque
- 3 caixas de biscoito de champanhe com açúcar fino
- 40g (ou o que te der na telha) de cacau em pó pra polvilhar por cima

PREPARO

Em um recipiente, bata as gemas com metade do açúcar até formar um creme esbranquiçado. Reserve. Em outro recipiente, bata as claras em neve firme. Junte o resto do açúcar e bata mais, até formar picos (é nessa hora que Nêga, a gatinha, entra em sua sorrateira e pérfida missão de destruir o arranjo de flores). Junte o creme de gemas com as claras em neve e o mascarpone. Misture até formar um creme homogêneo, curtindo muito esse momento em que se unem três coisas tão macias que até parecem aqueles anjos de ilustração de livrinho que a gente tem vontade de encher de porrada. Reserve. Misture o café com o conhaque e também reserve. Resista à vontade de aumentar a dose do conhaque porque isso só dá certo no bar, nunca no doce.

MONTAGEM

No fundo de uma forma, espalhe 1/3 dos biscoitos amaretto triturados (essa é a parte de que o Isminha participou, esmagando as bolachinhas como se fossem baratas escrotas). Por cima, espalhe 1/3 do creme de mascarpone, formando uma camada. Cubra com 1/3 dos biscoitos de champanhe embebidos no café-conhaque (pegue um biscoito por vez, molhe na mistura e ponha-o imediatamente sobre o creme de mascarpone, formando mais uma camada). Repita a seqüência, lembrando que nunca dá certo de todos os ingredientes baterem em quantidade pra formar o mesmo número de camadas. Sempre sobra alguma coisa e falta outra. Não se irrite: dê o que sobrou pro Domingos, que ficou 2 horas no seu pé suplicando por um teco, e dê uma espalhada assobiando e olhando pro lado pro que faltou não ficar aparente. Voilà! Para finalizar, passe o cacau em pó numa peneira fina e polvilhe-o, cobrindo toda a superfície. Leve à geladeira por, no mínimo, 1 hora, e sirva de coração aberto - boas sobremesas deixam transparecer na hora quando a coisa não é lá tão sincera.

Obs: essa receita é do chef Juscelino Pereira e as observações infames são minhas. Bon ap', les gars!

domingo, 20 de junho de 2010

ISMAEL ZANATTA JACKSON - THE PERFORMER, THE LEGEND.

Que não me acusem de influenciar meu filho a não gostar de futebas. Sei bem das delícias de torcer, mesmo não entendendo as regras e achando mais legais a cerveja e o churrasco do que o jogo em si. Por isso hoje Isminha traja (narração à la SP Fashion Week) uniforme da seleção que ganhou do vô Chico, enquanto bate um pandeirinho que ganhou da vó Jacira. A diferença é que o pequeno curte a moda enquanto vê Michael Jackson. Quando chega a hora do jogo, fica gritando comigo até eu tirar da Globo e colocar o DVD dos Backyardigans.

Ei, eu até dou a opção. Mas que tá no sangue gostar mais de ensaiar coreografias cheias de "tap! tap!" do que gritar gol, tá.

Com vocês, Ismael Zanatta Jackson: the performer, the legend.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Genética - o mal do século, desde que se sabe que ela existe

Temos sempre duas preocupações quando engravidamos:

1- Tomar todos os cuidados necessários pra que a gestação seja super saudável (isso inclui comer gororobas verdáceas com jeito de alpiste das quais você passa longe quando está em sã consciência e sem segundos seres habitando seu organismo, fora os micróbios, bactérias e vírus de praxe);

2- Pensar no resto da vida pós-útero, quando o grilo passa a ser a carga genética - tudo aquilo que ele vai herdar da mãe e do pai... E dos avós, tios, bisavós, primos distantes e vizinhos que têm uma descarga de privada tão forte que até passa mensagens pela parede do quartinho.

Precauções tomadas com relação a tudo de que é possível preservar o perdigoto durante a gravidez, a gente decidiu se munir do resto, até porque o teto aqui é bem de vidro. Casal ateu que bate no peito, Ismael e eu aceitamos uma invasão de xamãs e santos pretos quando o Isminha nasceu. O berço dele é ornado por presentes das mais diversas religiões - do mezuzá judeu e fitinhas do Nosso Senhor do Bonfim que amarramos em absolutamente todas as ripas da grade de proteção às figas, broches de olho e colares de pedras energizadas. Sim, porque na nossa cabeceira de casal pode faltar crença e harmonia, mas nessa casa ninguém peca (óia o resquício da catoliquice ítalo-espanhola aí, gente!) por omitir proteção ao filho. Até porque, convenhamos, tudo é boa intenção de quem faz a oferenda - e ainda tô esperando me darem um vuduzinho do bem pra completar a coleção. Alguém se habilita?

Ok, papel cumprido, resta aquilo de que nada nem ninguém salva uma criatura: os gens. Genética é uma coisa maravilhosa quando se aplica a ervilhas, bezerros clonados e testes de paternidade. Mas quando o assunto é filho, são outros quinhentos: genética dá um cagaço da porra. Analisem comigo, amigos:

- Família materna: vovó, sortuda, morreu de câncer no cérebro aos 5o e poucos - e se safou do Alzheimer, ataque cardíaco ou derrame que dizimaram, em números lindamente equilibrados, o resto da família;
- Família paterna: bando de nêgo forte da porra, graças à boa genética ou a todos os amuletos que olham pelo sono do nosso pequeno, mas com loucurinhas à flor da pele que deixam a gente de cabelo em pé;
- Pontos fortes: duas bisavós ainda vivas, que no máximo têm dores nos ossos e leve surdez (bem seletiva, diga-se de passagem, porque quando alguém oferece uma cervejinha, a que tá surdinha ouve muito bem, obrigada - e a outra não bebe porque o irmão caçula era alcoólatra, morreu em briga de bar na década de 60 e birita é coisa do mal. Guess who? A Espanhola, claro).

Ok, estou pensando muito longe. Então vamos ao que é perigo iminente: a bronquite. Histórico: minha mãe sofreu do mal dos 4 aos 50 e poucos anos, apesar de minha vó ter feito a varredura de benzedeiras e médicos de fato, em todo o estado de São Paulo e de Minas Gerais, pra resolver o problema. Nada salvou a mocinha das crises de falta de ar, inalações constantes e cabelos sujos porque "não pode lavar a cabeça, coitada - é doentinha". Daí vim eu, com saúde perfeita até os 2 anos, pra depois derrocar em sérias crises de bronquite que deixavam a família toda acordada à noite, até eu completar as 14 primaveras (e já espero a volta da desgraça, que minha mãe disse que vem depois dos 40, apesar do longo período de calmaria). Pra completar o casamento perfeito, Sir Ismael de Araujo, o maridão, sofre até hoje de bronquite E asma - e nossa casa é um antro de inaladores, bombinhas, remédios roxos que mais parecem disco voador e assim por diante. Vale tudo na batalha pra salvar os pulmões do mágico, que já têm só uns 60% de capacidade, após três pneumonias de desmaiar na porta do hospital.

Ou seja, toda vez que ouço o peitinho do nosso pequeno roncar, penso que pronto, chegou a hora. E até agora foi alarme falso. Amamentei até ele dizer chega (e dizem que isso é meio caminho andando pra criança escapar de alergias, bronquites e afins), mas ainda não me convenço de que a genética possa ser vencida. Pelo menos em alguns casos. E agora sinto o ainda mais pequeno (sic, sic, sic!) dando suas piruetas na minha barriga. Ops, ando muito com a cabeça no que já corre de cá pra lá - o que será que espera esse que ainda nem viu a cara do mundo? Bronquite, asma, joanetes, esclerose múltipla aos 90, hérnia de disco, pedra nos riiiiins? Cala a boca e vai dormir, mãe. Pra começo de história, ele precisa que você descanse.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Da coragem


Não é incrível quando você finalmente senta na cadeira do cabeleireiro – coisa que só faço a cada 7 meses, apesar dos apelos quase ameaçadores do meu marido e da minha vó – e se dispõe a uma transformação generosa, pra então sair de lá i-gual-zi-nha e ainda com uns fios fora do lugar que vão te dar um trabalho de merda? Na boa, não faço escova, não seco o cabelo. Às vezes nem penteio quando acordo. Se a porra da mulher não teve coragem de me sugerir uma tintura ruiva e um permanente, ao menos me poupasse os minutos de pente depois do banho.

 

Mudar é foda. Porque, se “radical” não for a palavra de ordem, nada acontece. O cabelo continua  a mesma bem-aventurada palhaçada que foi a vida toda, sem arrependimentos e sem novidade. A cabeça idem. Tenho me percebido, dolorosamente, uma pessoa cagona e sem atitude.  Fico adiando o dia em que vou voltar lá, sentar na cadeira e dizer: pinta de preto, corta joãozinho e me chama de Bloody Mary. Fico adiando o dia em que vou pegar a herança da minha mãe e viver três anos na França, com meu amor e meus filhos. Fico preterindo as conversas importantes, as palavrinhas que podem machucar, os grandes medos, enfim.

 

Novinha, eu era a rainha da mentira. Cheguei a falsificar as notas do boletim e a assinatura do meu pai, na 6a série, porque tinha medo da reação em casa quando chegasse com vermelhinhas e advertências por mau comportamento. Hoje jogo duas culpas: uma nos meus pais, que me matavam de medo, apesar de serem tão amorosos quanto o chamego patermaterno permite ser; e a culpa maior jogo em mim mesma e na minha personalidade covardésima, que antes tinha pavor de encarar a bronca dos pais por más notas e hoje tem pavor da falta de harmonia no meio da sala e das pequenas coisas não-ditas que podem gerar ecatombes.

 

Se alguém morrer nesse meio-tempo de interrogação, que eu não sei quanto dura e nem se acaba, será que meu travesseiro vai permitir qualquer sono, sabendo que “things were left unsaid”? Claro que não. E aí surge a diferença. A transformadora nem se pergunta – vai e resolve e fala e muda pra França; a medrosa corre o risco de ver acontecer, pensa na vó sozinha e longe dos bisnetos, considera os sentimentos de quem pouco se fodeu pros dela, olha pra conta do banco, faz contas. A medrosa penteia o cabelo quando sai do banho e pensa que talvez tenha sido bom a cabeleireira não ter confiado na liberdade que lhe foi dada. Cortou três dedos, desfiou uns bagulhos e pensou com ela mesma: “essa aí é fogo de palha”. Covardes não mudam de vida – nem cortam o cabelo pra mudar.  


PS (sobre a ilustração acima): o tema me lembra um livrinho que ganhei da Julie, minha grande amiga de infância e vida, que conheci quando morei na França, pequenininha feito joana de bolinhas, e que é minha menina-moça até hoje, aos quase 30. Filha de português com francesa, ela lia de tudo que brotava desses dois mundos - e me deu de presente uma história querida chamada "Cortei as Tranças", do António Mota. Pequeno e triste, o livro viria a ter muito mais a ver comigo do que a Julie poderia imaginar na época (a gente tinha uns 9 anos, se muito). Hoje pensei de novo nele, e nela. E no fato de eu não ter cortado as minhas. Enfim, remarco horário no cabeleireiro pra amanhã, a pedido do meu marido, que não quer voltar de viagem e me ver "ca mesma cara bagaceira" (sic meu, não dele - só está subentendido). E, pros curiosos, a Julie ganhou de mim, na mesma então-época, "O Meu Pé de Laranja Lima". Aquela bomba básica da literatura infantil brasileira, pra acabar com o coração da gente desde a mais tenra idade. 

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O pode-não-pode da gravidez

Pensei que fosse ser uma matéria sobre coisas importantes a se fazer ou não durante a gravidez, pero no. Trata-se de pintar cabelo, tirar esmalte, raspar a perna, passar creminho. Mas como CANSA ouvir que não pode fumar, cheirar, beber, injetar, inalar cola, tomar ácido e pular de barriga em espeto de pau, faz bem ler sobre supérfluos, só pra mudar de ares:

http://br.noticias.yahoo.com/s/27052010/25/entretenimento-liberado-proibido-na-gravidez.html

Só me pergunto se alguém realmente segue todas essas neuroses ao pé da letra. Parece que estar grávida é mais perigoso do que ser um portador do vírus HIV em fase terminal preso dentro de um ônibus cheio de gente muito, muito, muito gripada.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ele


Ele gosta de Mac e mergulha batatinhas na mostarda e no catchup, sempre nessa ordem, sempre em abundância. Ele sorri pra parede vazia e diz “tchaaau, Bobô” – que eu não faço a mais vaga ideia de quem seja, mas tem jeito de primeiro melhor amigo. Ele fecha os olhinhos e cantarola no telefone quando o pai tá do outro lado da linha. Já sente saudades, apesar de não entender bem o que é isso. Ele vem correndo afobado e risonho quando me vê esperando na porta da escolinha. Ele tem uma pelúcia preferida – um gatinho daqueles mole-molengas, que ele segura bem apertado até pegar no sono, de mansinho. Ele acorda no meio da noite e grita “dá!” até alguém aparecer e contar pra ele que ainda é noite, que precisa dormir mais. Se deixar, ele sai do berço às 3h e brinca tudo de novo. Ele faz rocambole com as mãozinhas no ar e esconde a cara, imitando alguma música que aprendeu com as professoras e que a tonta da mãe não reconheceu ainda. Mas já sabe também rodar, rodar, rodar, pé, pé, pé, descendo até o chão no caranguejo peixe é. Não é funkeiro, graças ao nosso bom senso, e nem faz ideia do que seja rebolation – mas faz as coreografias do Michael Jackson e assiste This is It de cabo a rabo, numa concentração de gigante estudioso.

Ele dá beijinho na testa e abraça quando vê a gente chorando. Daí me sinto eu meio menina, ele meio paizão, e isso me surpreende tanto que até paro de soluçar feito criança. Ele dirige um caminhão de bombeiro do Cascão e briga com o Domingos, que deixa o rabo comprido no meio do caminho – mas não passa por cima porque já é gente demais pra fazer maldade com bichinhos. Ele já segura a caneta direitinho, apesar de ainda não decidir se é destro ou canhoto, e desenha bolas quase perfeitas. E, com tudo isso, o que mais me impressiona é ver que um belo dia ele pega um carrinho de brinquedo, pro qual nunca deu bola, e arrasta agachado pelo chão fazendo “brrrruuuuuum”. É quando me dou conta de que meu moleque tá virando um homenzinho, daqueles que gostam de futebol e têm preguiça de tomar banho todo dia. Boba de tudo, sinto o queixo tremelicar.

.........................

"Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.


A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.


A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos a dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.


Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.


Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade


Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.


Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos,
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
.................................................................................

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu no colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
....................................................................................

Esta é a história do meu Menino Jesus,
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?"


Fernando Pessoa

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Licença-maternidade: ô abre-alas, que eu quero passar com minha pança




Ser mãe, além de essencial à existência de absolutamente tudo que há à nossa volta, é um direito garantido por lei. Porque ser mãe não é engravidar, trabalhar até o último dia do nono mês de gestação, agendar uma reunião com o obstetra pra desencravar o bebê do seu útero e voltar pro escritório no dia seguinte. É claro que algumas mulheres conseguem, como uma tal ministra-Hulk de algum país distante que, segundo meu bem-informado e nada exigente marido, teve um filho e voltou a trabalhar dois dias depois do parto – nem sei se normal ou cesárea, mas que leoa, jesuis. “Claro que deve ter um bom par de babás e provavelmente não amamenta”, disse ele, “mas essa não é a questão”. Outra exceção são os milhões de trabalhadoras fodidas na vida pra quem as Leis da Natureza parecem não ter aplicação.



Mas isso está ERRADO, minha amiga. Ser mãe é respeitar as mudanças no seu corpo e na sua vida e, acima de tudo, poder cuidar da sua cria, caceta. E se você se encontra entre o grupo que não tem superpoderes e está se matando no trabalho por cagaço de perder o emprego ou ser substituída por uma miúda de vinte anos, bunda magra e disposição pra trabalhar dezoito horas por dia pela metade do seu salário, pare e use a cabeça. Isso aqui não é competição pra ingressar na banheira do Gugu e seu bebê exige que você diminua o ritmo, doa a quem doer.



Eu trabalhei bem até o sétimo mês da minha primeira gravidez, mas depois disso meu corpo entrou numa curva descendente e gritava pra mim, de manhã ao sair da cama, logo após os almoços extenuantes com clientes e longas tardes na frente do computador, sacolejando no ônibus lotado pra chegar em casa, comer qualquer coisa e tomar um chuveiro rápido antes de deitar: “CHEGAAAAAAA!”. Outro problema é quando sua cabeça, que já tá a mil por hora por causa da chegada de um bebê, não suporta mais piti de clientes mimados ou exigências de chefes desesperados por resultados.



Isso também influencia na decisão sobre o momento de sair de licença-maternidade, a menos que você seja muito zen e não estresse com pessoas incompetentes, telefones que tocam incessantemente e impressoras que engolem papel, ou que sua rotina de trabalho não envolva fatores irritacionais. Imagino, por exemplo, que pintoras de lindas aquarelas no sul da França, biólogas que estudam o comportamento das tartarugas terrestres aleijadas e mulheres-cobaia das novas linhas de cosméticos e massagens da Helena Rubinstein não passem por isso. O resto das mortais infelizmente passa, então é necessário saber quando e como dar um basta.



No meu caso, a transformação foi radical. Primeiro porque sofro de uma patologia chamada pelos especialistas de AISAPMH – Alta Irritabilidade para Sons Agudos Provenientes de Mulheres Histéricas. Ou seja, me irrito profundamente em ambientes cheios de mulheres falando ao mesmo tempo, discutindo o último capítulo da novela e chorando porque o namorado não ligou, a unha encravou ou o padeiro se esqueceu de tirar a azeitona da empada que elas só-co-mem-sem-a-zei-to-na. Apapu!... Grávida, minha tendência ao mau humor explícito só fez crescer e contaminar situações que antes meus nervos conseguiam encarar, como as crises de um diretor de eventos que me ligava à meia-noite pra falar da morte da bezerra DELE.



Resultado: sentei com minha chefe, assumi minha total incapacidade pra lidar com certas tensões na reta final da gravidez e, em questão de uma semana, saí pra cuidar do que realmente andava ocupado minha cabeça, minhas calças, minhas blusas enormes e meu apetite: o bebê que chegaria logo mais. Diga-se de passagem que nesta altura do campeonato o pobrezinho ainda não tinha berço, carrinho, quarto, nada. Eu tinha muito a fazer antes de abrir as pernas na maternidade para o glorioso momento de pipocar o rebento pra fora.

É importante frisar também que eu chutei o pau da barraca antes dos 45 minutos do segundo tempo porque já tinha tomado a decisão de cuidar do meu filho sem ajuda de ninguém e trabalhar em casa, custasse o que custasse, pra poder ficar com ele. Não tendo minha mãe pra zelar pelo netinho no fim da licença-maternidade e sendo absolutamente alérgica a babás e similares, a única opção que enxerguei foi abrir mão do salário e do emprego fixo pra me virar do jeito que desse sediada em casa.



É aí que começa a graça e surge a Terceira Onda da Maternidade. Analise comigo, sim?



DA PRÉ-HISTÓRIA À DÉCADA DE 70: as mães eram mães em tempo integral. Cuidavam das tarefas do lar e dos filhos 24 horas por dia, sem se aventurar no mercado profissional, seja porque era impossível conciliar as duas coisas, seja porque os maridos neandertais achavam que lugar de muié é em casa, cas teta pendurada no fugão.



DA DÉCADA DE 70 AOS DIAS ATUAIS: onda das mães modernas, que trabalham fora e cuidam dos filhos só no período noturno. Geralmente essas mães precisam ajudar no sustento da casa ou trabalham fora porque gostam mesmo, ponto. A opção pode ser bacana, já que você descansa da maternidade durante um período e vira mãezona pra descansar do trabalho no outro, mas daí você precisa de alguém pra ficar com sua prole durante o dia – seja mãe, sogra, babá ou empregada doméstica com nove braços.



A TERCEIRA ONDA: mães que trabalham em casa E cuidam dos filhos em tempo integral. Quando o bebê dorme, você corre para resolver as pendências do trabalho; se ele não dorme, resolve com ele no colo. Reuniões, eventos, gravações, tudo é feito com o pequeno a tiracolo – e nos perdoem os que ficam constrangidos nos momentos da amamentação. É cansativo, sim, mas eu acredito que não tem nada mais gratificante do que poder acompanhar ao vivo e a cores o desenvolvimento turborrápido do bebê, ao invés de ouvir pelo telefone que o seu filho, que você mesma carregou na barriga por nove meses, disse a primeira palavra dele – e você não estava perto pra ouvir. Pior: a primeira palavra foi “Neide”, nome da babá, pra quem ele estranhamente olha e sorri quando alguém pergunta: “cadê a mamãe?”. O quê?!!! Nem a pau, Juvenal.



Tudo tem seu preço e esse eu resolvi bancar: sou da Terceira Onda, eô, eô. Tô mais pobre e aprendendo a fazer um monte de coisas que nunca imaginei fazer na vida, mas tô feliz de trocar cada fralda e acompanhar cada descoberta do pequeno, ao mesmo tempo em que eu mesma descubro uma nova profissão: a de mãe-jornalista-secretária-produtora-cozinheira-vacaleiteira-assistentedemágico-escritora-tudo-ao-mesmo-tempo-agora-sem-mais-esperar. Diploma só após nove meses de obesidade galopante e outros pares de meses de noites mal dormidas.



Agora, se você não sofre de AISAPMH ou se quer manter seu emprego depois do fim da licença-maternidade e tem com quem deixar o baby, aqui vão as pílulas de sobrevivência da Mulher-Hulk durante os quatro meses de idílio em casa (ou seis, se você for rabuda) e para preparar o terreno na hora de voltar ao trabalho:



1- Assim que puder, converse com seu chefe ou diretor, sei lá, sobre como funciona a licença-maternidade na empresa onde você trabalha. Caso seu emprego seja informal, essa conversa é mais importante ainda, afinal o que vai definir sua vida é o quanto o líder da empresa se comove com o fator maternidade e, claro, o tamanho do cagaço que ele(a) tem de você mover uma ação contra a empresa se seus direitos humamãenos forem desrespeitados.



Comigo foi tudo bem tranqüilo. A dona do lugar em que eu trabalhava era bebê-maníaca, mãe de um lindo ruivinho de sete anos; a empresa tinha força de trabalho 90% feminina e minha superiora direta estava justamente de licença-maternidade quando eu descobri minha gravidez. Os termos da minha saída foram discutidos de forma muito justa e eu também fui honesta, explicando que não pretendia voltar após o nascimento do pequeno gafanhoto. Ou seja, não cheguei nem a tirar licença. Dã! Mas vamos considerar os bons exemplos, sim?



2- O Brasil tem uma legislação bem amiga no que diz respeito à licença-maternidade. Pra você ter uma idéia, nos Estados Unidos, que são os Estados Unidos e que todos sabem que estadosunideiam desde que aprenderam a estadosunideiar, não existe lei federal que proteja a licença-maternidade remunerada. Hã?! É isso mesmo que você acaba de ler, minha cara Wonder Woman. Na América do Norte, Terra das Oportunidades, País das Maravilhas e do Politicamente Correto, onde até criancinhas de cinco anos são processadas por levantar a saia das meninas no recreio, as mamães que não voltam à labuta loguinho simplesmente não têm direito a nada e podem perder o emprego ou deixar de receber suas tão merecidas doletas. Por isso geralmente as americanas voltam ao batente quando a cria está só com um mês de vida. UM MÊS!



Então agora bata no peito e cante com a torcida verde-amarela: “eu sou brasileira, com muito orgulho, com muito amo-ô-o-ô-or!”. Aqui, a “working mom” – ou mamãe trabalhadora f**** na vida – tem direitos. Ela pode sair de licença quatro semanas antes do parto e volta somente três meses depois que o bebê nascer. Se você preferir, também pode trampar até o último minuto de gravidez, sair do escritório de taxi com a cabeça do nenê entre as pernas e acumular um mês a mais no seu rico cofrinho de cárcere doméstico. E agora, para o pasmem da Nação, foi aprovada a licença de seis meses, que já tá entrando em vigor em algumas empresas.



Daí voltar ao trabalho é outra coisa, né, moça? O coração aperta, claro, mas pelo menos o serzinho já tá mais forte e esperto o suficiente pra gritar quando não gosta de alguma coisa, come papinha, toma suquinho e passa o dia todo feliz, batendo gugudadá com a turminha. Santa independência, mãe!



3- Diz minha vó materna que ser mãe é padecer no Paraíso (ela também diz que o mar não tem cabelos e que cu de pato não é gaveta, mas essa é outra história que fica pra uma outra vez). Isso vale para as católicas, judias, budistas, muçulmanas, niilistas e até para as ateias como euzinha. Porque a mãe que nasce em você desde o momento em que aquele palito mijado revela seu milagre intra-uterino já vem acompanhada de dois sentimentos inabaláveis: um amor imenso e, para todos os efeitos, in-des-cri-tí-vel, e uma CULPA maior ainda (se for possível; se não for, tão grande quanto). Culpa por comer peixe cru e fumar dois cigarros por dia durante a gravidez, culpa por cair num sono profundo e não ouvir seu filho chorar de fome no meio da noite, culpa por beliscar a ponta do dedinho dele quando você vai cortar aquelas unhinhas mínimas pela primeira vez e o fiodaputa se mexe, culpa por levá-lo pra tomar vacinas doídas todo mês e ser cúmplice dessa chacina de coxinhas gordas e bracinhos macios, culpa por deixar que ele tome friagem e depois ver o bichinho respirar com dificuldade por causa do nariz entupido e do peito cheeeeio de catarro, culpa por achar que ele tá chorando de birra e daí descobrir que ele tá é todo cagado, com a calça borrada até o meio das costas, culpa por sentir alívio quando ele finalmente pega no sono e você abre uma garrafa muito mal-intencionada de vinho enquanto põe um filme de três horas pra rodar. Finalmente, culpa quando chega a hora de voltar ao trabalho e você acha que tá abandonando seu filho e que ele não vai sobreviver nesse mundo cruel e gargamelístico longe de você.



Culpa, menina-mãe, é sua sina. E se você achava que já conhecia bem esse sentimento, afinal traiu ex-namoradinhos, mentiu pra sua mãe dizendo que tava no cinema e, lá no fundo, ficou feliz quando aquela vagabunda da faculdade bateu o carro novo, estava ERRADA. Culpa, menina-mãe, você só conhece de verdade quando põe um filho no mundo. E o pior é que não precisa de motivo. Então engula a seco e faça o que tem de fazer. Se você precisa ou se simplesmente quer trabalhar fora, tanto faz. O que importa é saber que, se você continuar a ser uma mãezona de primeira quando chegar em casa, seu filhote vai ser feliz. E pra ele será como se você nunca tivesse saído porque amor de mãe e pai tem dessas coisas – invade a sala por baixo do tapete, sobe pelas paredes, pendura alegre no lustre do teto e desce macio até o bercinho, mesmo quando a gente não pode estar por perto o tempo todo.



4- Quando você opta por trabalhar em casa ou abrir seu negócio próprio e cuidar do bebê ao mesmo tempo, saiba que vai ter demanda dos dois lados com a mesma intensidade, afinal um não começa só quando o outro acaba e vice-versa.



O pessoal acha que a mãe que fica em casa é folgadona, né? Pois pode mandar o dedo pra essa galera porque ser mãe em tempo integral é bem trabalhoso – e nem todas são capazes de levar a tarefa adiante porque se vêem às voltas com sérias crises de individualidade, achando que o filho tirou delas a liberdade de ir e vir, substituiu o perfume carésimo e as horas de cabeleireiro por cheirinho de gorfo com cocô, acabou com as horas de namoro embaixo do cobertor e ainda deixou um rastro de pelancas e estrias por onde passou. Ok, cada uma na sua, mas esse tipo de drama costuma ser bem resolvido na cabeça das que são mães 24 horas por escolha.



A minha, por exemplo, não só optou por tomar conta dia e noite dos dois minitrogloditas que fomos meu irmão e eu, como fez tudo de mão cheia. Nossa infância foi povoada de histórias incríveis, muito amor, esporros que fazem meu queixo tremer até hoje e deliciosas tardes de sol tomando banho de esguicho e vitamina de banana. E o mais bacana é que, mesmo se dedicando tanto e unicamente à criação da prolífera prole, minha mãe conseguia ser a pessoa mais interessante em qual-quer roda de qual-quer lugar ou esfera social. Foi uma das pessoas mais versáteis e intelectualizadas que conheci na vida. Era instrumentista e cantora, poeta e pintora, jardineira de dedo verde e excelente cozinheira (e ai, que saudade daquela sopa de cebola); entendia de vinhos, pássaros, cachaças e medicina; devorava livros e filmes, manjava trabalhos de carpintaria e de quebra sabia sempre o que tinha de errado com o motor do carro. Portanto, às mães que têm um pouco de medo de perder a identidade no meio de tanta fralda, eu digo que quem nasce pra brilhar brilha – ponto. É só não deixar nunca de exercitar o que você tem de precioso, tanto nas horas vagas e nos momentos de sossego com os amigos quanto na companhia dos seus filhos, que com certeza vão ser seus maiores fãs.



Agora, se além de tudo você decide associar uma vida profissional em casa ao processo de maternidade em tempo integral, prepare o espírito, concheta, porque é uma maratona. O lance é tentar planejar seu dia e criar uma rotina do jeito que der (e só você vai saber qual é) pra que seu trabalho não passe por cima do bebê e pra que o lindinho não engatinhe em cima dos seus papéis ou grite enquanto você fala no telefone com um cliente ranzinza. Assim que pegar o ritmo, você vai ver que não é tão cabeludo quanto você achou que fosse no começo. E daí você vai se sentir a mais completa – e a mais feliz – de todas as mulheres. Assino embaixo.







domingo, 16 de maio de 2010

Plano de saúde, o TERROR

Conselho para as moças que estão pensando em engravidar em algum tempo e, admiráveis precavidas que são, já estão atrás de informações para ter a gravidez mais tranqüila possível (o “admiráveis” é pelo fato de eu não ser, nem nunca ter sido, uma pessoa precavida – e por isso ter arrebentado a cara diversas vezes): façam um plano de saúde IMEDIATAMENTE, mesmo que o projeto de engravidar não seja pra já. Por quê? Elementar, chère Watsonne: o período de carência de TODO e QUALQUER convênio para parto é de 10 meses. Ou seja, se você engravida e só então decide fazer um plano de saúde pra poder amortizar as despesas hospitalares, vai se dar mal. Ele não vai cobrir, ponto. Tenta chorar: não adianta. Tenta espernear: pfffff. Tenta fazer chantagem emocional e dizer que seu filho vai nascer embaixo da ponte: eles estão pouco se fodendo. Tenta oferecer o dobro da mensalidade: eles não precisam. Essa indústria ganha rios de dinheiro e por isso se dá o luxo de desdenhar do seu desespero. É ASSIM. Portanto coloque a mão no bolsinho e previna-se, pra evitar más surpresas na hora H (adoro).

Agora, se você, como eu, não é uma admirável moça precavida e foi pega de calça curta nessa história de plano de saúde – ou seja, só decidiu ir atrás disso quando descobriu que vai ser mamãe –, respire fundo. Não existe salvação, mas dá pra amenizar o estrago. Sugestões:

1- Faça um plano de saúde o mais rápido possível, anyway. Ele não cobrirá seu parto, mas as despesas médicas com pré-natal e exames, sim. A carência para consultas é de 30 dias; para ultrassom, 90 dias; para exames mais complexos, como o ultrassom morfológico, 6 meses. Ou seja, se você assinar o contrato no início da gravidez, vai poder desfrutar de uma gravidez segura com acompanhamento médico menos dispendioso. E, nos quesitos que o plano não cobre integralmente, você pode conseguir bons descontos por ser cliente de algum plano em boa parte dos laboratórios – já é um consolo;

2- As maternidades têm o que chamam de Plano Maternidade para as mamães que não têm convênio. Eles são caros, CLARO, afinal a saúde no nosso país é sucateada e quem quer a segurança de um hospital particular de confiança tem que pagar por ela. E pagar caaaaro. A maior parte desses hospitais, no entanto, parcela o valor do parto, dependendo do tempo com que você fecha contrato – ou seja, se você fecha no 4o mês de gravidez, consegue parcelar o pagamento em 5 vezes; no 5o mês, consegue fazer em 4 parcelas, e assim por diante. Girl, os valores, em São Paulo, estão girando em torno de R$ 7 mil (e os honorários do obstetra e do anestesista não estão inclusos), mas em 5 vezes dói um pouco menos. Um pouco. Corre atrás voando.

3- Precisa ter coragem – e eu confesso que não tive –, mas algumas mulheres dizem por experiência que o sistema público de saúde tem, SIM, boas opções para quem quiser entrar de cabeça. Em São Paulo, o hospital Amparo Maternal (http://www.amparomaternal.org/) traz ótimas referências, por exemplo. Uma heroína que trabalha comigo teve os três filhos lá e disse que tudo correu às mil maravilhas nas três vezes. Cartão do SUS em mãos, gasto zero. E ainda tem as três refeições para o acompanhante, coisa que muita maternidade particular não oferece nem a cacetada. Mas nem sequilho com chá, saca? Pra quem não tem escolha, vale a pena se informar sobre as opções e encarar.

domingo, 9 de maio de 2010

As grávidas de Polanski



VIDEOTECA DA MULHER GRÁVIDA


O Bebê de Rosemary

Categoria: terror macabro

País/ano: EUA, 1968

Duração: 136 minutos

A direção é de Roman Polanski, “aquele pedófilo genial”, segundo meu marido. Esse filme é para corações valentes e grávidas que têm passado tão mal que precisam com urgência saber que a coisa poderia ser muito, mas muito pior. Você tem vomitado até as tripas, sentido tontura sem tomar porre e um cansaço de fim de feira antes mesmo de levantar da cama pela manhã? Tá achando que sua gravidez é a mais sofrida de toda a história da Humanidade? Pois esse é o filme certo pra você. Às favas com a solidariedade – manter o bom humor nessas horas é questão de sobrevivência.

Interpretada pela esquálida e sem sal Mia Farrow no auge de sua juventude (bonitinha, sim, mas depois de cinco minutos de filme a gente já entende por que Woody Allen a trocou pela filha adotiva), Rosemary é uma mocinha bem-casada e feliz, pronta pra viver a tríade dos sonhos de qualquer mulher: o grande amor, a casa nova e a primeira experiência de maternidade. É quando ela e o marido se mudam para um prédio novaiorquino onde mora um casal de velhotes bem bizarro – a senhora, xereta e entrona, não sai do pé da nossa protagonista; e o senhor, aparentemente cheio de boa vontade e pacatão, passa a manter longas conversas secretas com a anta do jovem marido. Já bastante sufocada e irritada pela presença constante dos dois abutres, Rosemary consegue engravidar – e é aí que os absurdos começam de verdade.

Com total consentimento do pai da criança, o casal de vizinhos se impõe com tudo à pobre frangota, forçando goela abaixo as vitaminas que ela deve tomar durante a gestação (e que a velha louca prepara pessoalmente com ervas fedorentas que cultiva em seu apartamento) e até escolhendo o respeitadíssimo médico-obstetra que irá atendê-la. Pra melhorar a situação, Rosemary é acometida por dores horripilantes desde o primeiro dia da gravidez – e tanto o médico quanto o marido e os vizinhos insistem em dizer que não é nada grave, vai passar. Aos poucos a gravidinha entra numa piração completa, não sabe mais o que é delírio e o que é realidade e se vê vítima de uma conspiração diabólica (sim, ao pé da letra).

Será que a criança que cresce naquela barriguinha esturricada é mesmo um bebê inocente? Será que ela tá ficando louquinha da silva e tudo não passa de complexo de perseguição por causa da ebulição hormonal? Ou será que seu doce marido não é o anjinho miojal que ela pensou que fosse? Seja como for, a moça luta até o fim pra manter a sanidade e proteger seu futuro rebento das forças maléficas que ela acredita estarem atrás dele.

Para mamães curiosas: se a ideia é aumentar a intensidade dos arrepios, saiba que o diretor usou um grupo satanista de verdade pra fazer uma cena ritualística medonha que aparece no filme. E o mais assustador é que, pouco depois do fim das filmagens, a atriz Sharon Tate – esposa do cineasta – foi assassinada em um ritual macabro da seita satânica comandada pelo crazy serial killer Charles Manson. Detalhe: ela estava grávida de 8 meses. "Cazz'inculo, La Maman!" Pois é. Vai encarar?

DICAS DO MOMENTINHO CINEMA:

- Ver com um balde enorme de pipoca no colo, afinal o filme é brilhantemente tenso, mas não contém nenhuma cena de virar o estômago (fora as vitaminas verdes que a velha prepara, claro);

- Se seu marido ou namorado estiver junto, firmar previamente um acordo tácito em que:

a) você não vai acabar o filme olhando pra ele com o rabo do olho e desconfiando toda vez que ele te oferecer um copo d’água;

b) ele não vai cavar briga no meio do filme só porque a Rosemary confia mais nas antigas amigas do que no próprio marido – afinal, no contexto em que a pobrezinha se encontra, faz todo o sentido do mundo achar que o marido é o próprio demo.

sábado, 8 de maio de 2010

Rainha de maio e seus desdobramentos

Para mães de primeira viagem

Diretamente do diário de bordo de minha primeira gravidez, quando esperava o grande Ismiggles, para as mães que pretendem engravidar em breve ou estão passando por isso agora. E para as que estão passando pela segunda, terceira, quarta in-utero-trip. Afinal, é sempre bom relembrar.

O mês de maio se tornou uma ovelhinha negra e amarga no meio do meu ano. Três meses de gravidez completos e uma felicidade sólida entre os dentes, dei de cara com um 30 abril que me lembrou o tema. No dia seguinte, feriadão de frio, faria dois anos que minha mãe se internara no Einstein para mais um tratamento escalafobético de seu tumor cerebral. No segundo domingo de maio, Dia das Mães, a bichinha já dormia um sono profundo e que, a gente saberia depois, não teria bem um fim. 19 de maio, comemoramos o aniversário do meu pai no quarto superluxo do hospital – ele, eu, uma pizza do Viena e uma garrafa de vinho; ela, dormindo. 23 de maio, a vida parou de respirar de vez. Seis dias antes de minha moça morena completar 54 anos e um resto todo de vida do lado de cá.

Desde então, bem sem querer, passei a odiar secretamente o mês de maio. Por mais que eu não goste de pontuar datas mórbidas no calendário (ao contrário de minha avó, que assopra velas e enfeita túmulos até no aniversário da primeira dentição), o maldito mês ficou com essa pecha de má digestão. E olha que minha mãe gostava de flores de maio, cantarolava bonito noite adentro e fazia festas homéricas ao som de boleros para brindar anos com meu pai. Mas em mim ficou a impressão besta de que choveu no meu piquenique. É aquela coisa lusco-fusca que os olhares diagoneiam e ninguém comenta, mas eu bem vejo – lá vêm aniversários de doença e morte, e eu querendo fugir de pedras tombais; lá vêm os 56 anos que não viraram a mesa, e eu sem paciência pra nada nem ninguém; lá vem o Dia das Mães com seus presentes e almoços felizes, e eu sem a minha.

Só sei que ando achando graça porque esse ano tem um quezinho a mais saracoteando no meu ar. Porque agora o tal segundo domingo de maio é também meu. Não sei ainda se a coisinha acaba com “a” ou “o”, se vai gostar do frio de maio e se vai ter mania de me escrever bilhetes tortos no Dia das Mães. Mas torço, pés juntos e olhos apertados, pra que esse mês passe logo. E, se for menina, pra que tenha os olhos bem pretos e um sorriso bonito de meia-lua. Aí vai se chamar Lenita, ouvir boleros velhos no colo do pai, pintar as paredes da casa e dar gargalhadas muito altas, daquelas que enchem a vida da gente de um não-sei-quê contente. Pra essa mãe aqui entender que tudo é novo e vale, mesmo, a pena.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Osso duro de roer

Um dos meus trabalhos consiste em escrever sobre gastronomia, como já disse aqui. E sempre me exclama no rosto o tanto de analogias que dá pra gente fazer entre vida e comida, vida e bebida, comida e gente. Vida e enfins, enfim. Hoje me veio esse texto delicioso pra fazer sobre um menu de carnes com ossos que o restaurante La Casserole, templo absoluto do que eu chamo de cozinha francesa de verdade aqui em São Paulo, vai lançar em breve. Vem bla, vai bla, surge a seguinte afirmação: toda carne próxima do osso, quando cozida lentamente, ganha em sabor, maciez e personalidade, produzindo resultados inegavelmente mais poderosos. Por isso os caldos, numa cozinha que se preze, são feitos a partir de ossos e carcaças – e daí vêm os caldos restauradores, que renovam nossas energias porque trazem a “força dos ossos”.


Pois bem, fico aqui me indagando sobre o quanto o filé mignon da vida não fez de mim uma banana. E sobre o quanto, de fato, só me transformo em mulher forte quando a vida é osso. No meu caldo restaurador, andam boiando umas dezenas de ossinhos velhos e alguma carcaça bem pesada dos fantasmas que atropelam meu bem-estar. Mas bem-estar é filé mignon, most of the time. Talvez continuasse a ser uma banana split, sem bolas ou cobertura, se a vida não tivesse lá seus ossos. E acredito muito na sabedoria da chef e dona do La Casserole, mais baseada em fatos milenares do que a minha – "cozinhe com osso, minha filha, cozinhe com osso. Você vai sair dessa muito mais forte e muito mais gente do que entrou".

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Do corpo e outros demônios


Para mães de primeira viagem

Diretamente do diário de bordo de minha primeira gravidez, quando esperava o grande Ismiggles, para as mães que pretendem engravidar em breve ou estão passando por isso agora. E para as que estão passando pela segunda, terceira, quarta in-utero-trip. Afinal, é sempre bom relembrar.

Nunca fui viciada em boa forma e afins – até porque trabalho com comida e bebida, ora escrevendo sobre uma e outra, ora só usando a carreira como pretexto para encher a pança e tortear os passos. Mas também nunca fui gordinha, que as molecagens da vida e o metabolismo simpático às causas duvidosas me mantiveram até hoje em peso são.

Minha curiosidade, logo que saí de casa para meu primeiro passeio conscientemente grávido, era todo o resto. Que minha barriga cresceria a ponto de pipocarem as estrias* e meus peitos despencariam em salto ornamental depois da amamentação**, eu já sabia. Que eu começaria a invejar as gazelas de bundinha miúda que passeiam aos saltos por aí, vá lá. Mas e o resto?

Me embrenhei numa dessas livrarias que mais parecem experimento científico – você entra naquela atmosfera arcondicionada e acarpetada e sente que nunca mais vai conseguir sair de lá – pra fazer pesquisas. O engraçado é que quando questionado sobre a seção dos livros de gravidez, o vendedor cheio de espinhas olha pra sua cara de pseudográvida com um meio-espanto. Parece que vai rir e apontar o dedo: “mentirosa!”. Mas tudo bem, isso não é problema nosso.

Depois de bocejar debruçada sobre 16 volumes a respeito do tema, como “moda e estilo na gestação”, “alimentos saudáveis para a mamãe” e “não importa o que faça, nunca beba e nunca fume”, caí num pequeno exemplar fantasmagórico: o que o homem precisa saber sobre a gravidez. Primeiro pensei em esconder o trunfo do meu marido, mas quando vi o conteúdo de horrores que o autor desfilava páginas adentro, corri alarmada pra perto dele. As perspectivas não eram nada convidativas.

“Senhoras e senhores, agora com vocês, vinda diretamente da Grotescolândia, a GRÁVIDA!”: Gases, hemorróidas, alargamento da vulva, falta de apetite sexual, séria restrição de posições na cama, congestão nasal, prisão de ventre, cistite, câimbra, sudorese, incontinência urinária, inflamação das gengivas, corrimento e manchas na pele.

Oh yeah, baby, gravidinha sexy. Porque dos enjôos e inchaços nos pés eu sabia (e juro que nada disso me incomodava). Mas naquele momento passei a enxergar no espelho uma figura praticamente suína – 20 quilos a mais, gengivas de lutador de boxe, a voz anasalada e uma eterna caixa de lenços de papel na mão. Pior: duas pizzas redondo-escuras embaixo dos braços, a coceira alucinante entre as pernas e os barulhos e odores constrangedores na sala de espera: “desculpa, gente, é que eu tô grávida”, avexa-se a perpetuadora da espécie.

Comecei a achar que as grávidas não pegam fila porque a sociedade prefere despachar logo os paquidermes pra casa. Questão de limpeza urbana, ponto. E a tal falta de apetite sexual só pode ser a forma que a natureza encontrou de nos compensar pelas horas extras que nossos companheiros começam a dedicar, inexplicavelmente, a partir do quinto mês de gestação, aos jogos de futebol e cochilos no fim do dia – foi mal, querida, hoje não tô a fim.

Tonta que sou, saí da livraria decidida a cortar o chocolate, que já não era tanto, e a me alistar na fatídica hidroginástica. Em algum ponto entre a seção de livros infantis barulhentos e o caixa, me venderam a idéia de ser uma Hollywood mamma, com implante de silicone nos peitos, idas diárias à academia e uma dieta à base de pepinos orgânicos.

*Cito porque funcionou: hidratante à base de óleos de amêndoas doces, macadâmia e calêndula Mater Skin, do laboratório Cosmiatric, que você acha em qualquer farmácia. Passar todo dia depois do banho, no corpanzil inteiro (dependendo da fase da gravidez, isso pode demorar uns 48 minutos. Rarara). Só sei que escapei das estrias na minha primeira gestação - e a dica mais importate é continuar a passar depois que o bebê nascer, afinal, no quesito estrias, a fase em que você desincha e perde os quilotes a mais é tão perigosa quanto a de engorda.

**Outra feliz notícia, gravidinhas do Brasil: os peitos não caíram (pelo menos não da primeira vez). A dica é exercitar os músculos que sustentam los tetones e SEMPRE usar sutiã. Usar sutiã todo dia, dormir de sutiã, acordar de sutiã, tomar banho de sutiã. As feministas que me esfreguem alho e ponham na fogueira: o sutiã é, SIM, o maior inimigo da gravidade e o melhor amigo da mulher.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

O paquiderme que queria ser mãe. Ops, pai. Mãe. Pai. Hã?


SESSÃO VIDEOTECA DA MULHER GRÁVIDA

Júnior
Categoria: comédia besta, besta
País/ano: EUA, 1994
Duração: 109 minutos

Dei uma única risada vendo o filme. Uma. Mas isso não quer dizer que a comediazinha não funcione – eu que sou uma grávida um tanto mal-humorada, além de não ter paciência, com ou sem barriga, para a sempre péssima atuação do brutamontes Arnold Schwarzenegger (ele também, com ou sem barriga). Como em todo papel da carreira do cara, de cabo a rabo e sem exceções, ele está inexpressivo, monótono e um ótimo mau ator. Mas jaz aí parte da graça se a gente prestar atenção em Júnior só como peça cinematográfica: qual o segredo desse austríaco de sorriso mole pra ficar podre de rico fazendo uma coisa que ele simplesmente não sabe fazer?! Mistério.

Fora isso, o passatempo é simpático e tem seus momentos. O enredo não exige um raciocínio científico lá muito desenvolvido – um doutor bizarróide, personagem de Schwarzenegger, cria um remédio chamado Engravidol para ajudar as mulheres que não conseguem ter filhos naturalmente. Ainda em fase de testes nos delirantes chimpanzés – que, mais uma vez, têm uma atuação muito superior à do nosso astro musculoso –, a substância é rejeitada pelo controle de qualidade. Daí, com ajuda de outro médico, interpretado por Danny DeVito, ele resolve provar a eficácia do Engravidol testando-o em si mesmo. Pronto, circo armado.

Altamente recomendável à futura mamãe que desenvolveu um espírito vingativo e esconjura o sexo masculino sempre que o maridão esquece que ela tá grávida, pedindo pra andar depressa ou prestar mais atenção pra não quebrar tantos copos. Apaputaquepariu, né? Pois o doutor bizarróide passa por todos os perrengues da gravidez, desde os primeiros enjôos matinais e crises de choro por causa de comerciais de TV até os chutes, as dores nas costas, a busca interminável e exaustiva por uma posição confortável pra dormir e os horrores do trabalho de parto. Quer se vingar mesmo? Faz seu marido assistir ao filme com você. Talvez ele consiga entender um pouco melhor sua condição de ogra pesada, lerda e desastrada se for pra ver o ídolo exterminador do futuro fazer caras e bocas em um papel “sensível” – ou pelo menos tentar.

Tem também outro detalhe que merece atenção, desta vez por ser simplesmente ASSUSTADOR: a certa altura da trama, nosso gravidinho vai parar num lugar que eu nunca imaginei que existisse na face da Terra. Mas como estamos falando dos Estados Unidos, claro que é possível – afinal, este é o maravilhoso país dos MMs – Michael Jackson, Mickey Mouse e Mulheres Mongas. E só mesmo lá poderia haver um RETIRO para grávidas. Mas a coisa é mais grave do que se imagina. A “clínica”, igualzinha a um asilo de luxo, é alegre, florida e cheia de mulheres vestidas de cor-de-rosa. Medo. Lá as grávidas acordam, tomam café em grupo, fazem exercícios ao ar livre, trocam experiências, aprendem a colocar fraldas em bonecas, dar banho e os cambau. A idéia pode parecer bacana para algumas, mas pra mim é amedrontadora.

E cadê os maridos ou companheiros nessa brincadeira? Francamente, eu não sei. Foram viajar e deixaram suas mulheres lá pra que não ficassem sozinhas, não agüentavam mais ouvir o chororô delas ou simplesmente sumiram no mundo. A única coisa que sei, isso sim, é que eu daria um nó no pinto do meu se ele sugerisse me internar nessa casa do capeta. Porque já basta estar grávida – imagine então estar grávida e ter que suportar 40 outras mulheres histéricas na mesma situação que você, rodeada por poltronas de tafetá rosa, tendo que tomar chá e falar de gases e nomes de bebê com elas to-do-san-to-di-a? Juro que se eu acreditasse em inferno, essa seria a imagem perfeita do meu.

sábado, 24 de abril de 2010

Para mães de primeira viagem

Diretamente do diário de bordo de minha primeira gravidez, quando esperava o grande Ismiggles, para as mães que pretendem engravidar em breve ou estão passando por isso agora. E para as que estão passando pela segunda, terceira, quarta in-utero-trip. Afinal, é sempre bom relembrar.

Filhos em bastão

Beberrona e fumante compulsiva, nunca pensei que fosse engravidar tão fácil. Primeira lição: vida sexual intensa com parceiro fixo de esperma espantalhosamente denso dá nisso. Por mais que você beba litros de vinho e vodca toda santa semana – às vezes até dia-sim-dia-não, dependendo do nível de irritação com a vida – e fume maços e maços de cigarro deliberadamente, não tem jeito. Situações fecundas são situações fecundas, desde que o mundo é mundo e os fatos óbvios são óbvios.

É assim que meninas de 14 anos engravidam do primeiro namorado, mesmo que deixem pôr só a cabecinha; é assim que imbecis de 19 engravidam na balada, por mais que o infeliz goze fora; é assim que certas modelos-atrizes poliglotas conseguem pensões milionárias passando uma única noite de orgia na companhia de astros internacionais do rock; e é assim que moças como eu, que estão começando a pensar em se preparar para a primeira gravidez, mijam num pedaço de plástico e acabam com um belo sinal positivo, azul e ainda pingando, entre os dedos.

Não era pra tanto, mas juro que fiquei surpresa. Meu marido andava cantando a bola já tinha uns tempos – na verdade, ele já cantava quase antes mesmo de me levar pra cama pela primeira vez, de tanto que queria ser pai. Acontece que a gente fica esperando sentir alguma coisa especialíssima, como um Gremlin brotando das entranhas ou um bebê de Rosemary mordiscando as paredes do útero. Nada. Meus peitos incharam como numa pré-menstruação (no que já aproveitei para abusar dos decotes, que esses são os cinco dias do mês em que me sinto um tanto belucciana), ficaram doloridos e só. Nada de enjôos, nada de tonturas. Infelizmente, a barriga não endureceu.

A única coisa que mudou em mim foi pontual – e pontualmente – quando o positivo azul despontou no palito de farmácia: vou ser mãe. O primeiro pensamento foi para meu marido, que esperava do lado de fora, de tromba armada por alguma discussão patética que tivemos na véspera; o segundo foi para minha mãe, que eu gostaria que estivesse viva pra ser a primeira a saber da novidade; o terceiro foi para o maço de cigarros, que carregava os meus três últimos moicanos – sim, fumante é um serzinho doente. Vou ser mãe.

O teste de farmácia (ou momento-privadão)

Não tem coisa mais fascinante do que essa história de teste de farmácia. A coisa funciona mais ou menos assim: quando você engravida, começa a produzir grandes quantidades de um hormônio chamado hCG. Atenção para o glamour da nomenclatura – é a gonadotrofina cariônica humana. Preferia nem saber, né? Pois bem, vou me ater às informações úteis. Esse hormônio começa a ser liberado no sangue quando o óvulo fertilizado da moça se implanta na parede do útero. E um pouco do hCG também chega à urina, então voilà! É assim que um bastãozinho plástico que você tira de uma embalagem que mais parece de chiclete vai detectar se você está ou não grávida.

As instruções de uso poderiam ser tão simples que eles acabam dando uma complicada só pra dar graça. São parágrafos e mais parágrafos explicando apenas como e por quanto tempo você deve mijar no palito. Então não se assuste e retenha só o seguinte:
- A primeira mijadela do dia é sempre mais concentrada e, portanto, mais frutífera. Aliás, grande parte dos testes só detecta a gravidez nesse primeiro xixi (os que funcionam a qualquer hora do dia são mais caros). Enfim, não troque o certo pelo duvidoso e faça o teste logo na primeira sentada – afinal, nada mais digno do que descobrir que seu filho foi revelado no jato mais bem informado, culto e cheio de conteúdo que a mamãe poderia disparar!
- Deixe o bastão na posição que eles pedem – ponta esponjosa virada pra baixo;
- Se o xixi travar, pense em cachoeiras, passarinhos e passarás. Passada a tensão, deixe o amarelinho sair bravamente, como se fosse sua primeira mijada depois de nove cervejas e 10 quilômetros caminhados sem ter um único banheiro à vista;
- Tire o bastão do jato de xixi assim que se passar o tempo indicado na bula (normalmente, são só uns 5 segundos) e acabe tranqüila.
- Agora é esperar. Se aparecer uma simbólica cruz na janelinha, minha amiga, só tenho duas alternativas...

1- Parabéns! Você está grávida! Corre pra contar pro pai ansioso, antes que ele acabe de roer as unhas e comece a mastigar a ponta dos dedos!

2- Respire fundo e pense bem no que vai fazer. Só espero que o pai não seja aquele BABACA pra quem você deu bêbada dois meses atrás e que jurou de pé juntos que nunca mais encontraria nessa encarnação. E Boa sorte!

Claro, como nem tudo é perfeito, o teste de gravidez de farmácia pode dar errado. Seja porque você se atrapalhou com aqueles parágrafos e parágrafos complicados das instruções, seja porque você está grávida há tão pouco tempo que o nível de hCG na urina ainda não aparece ou seja simplesmente porque você é ruim de mira pra cacete. De qualquer forma, fique atenta à sua menstruação. Se depois de uma semana a danada teimar em não descer, faça novo teste. E procure seu médico, sempre (como esse detalhe consta em tudo quanto é texto que a gente lê na vida, não vou fugir à regra). O exame de sangue feito em laboratório (que preste, por favor) é mais elaborado e tem uma precisão de praticamente 100% já uma semana após o coito. Você não adora esse termo? “Oi, querida, o que você aprontou ontem?” “Putz, Fê, eu coitei a noite inteira!”. Então, se você tá aí ficando careca de tanta tensão, moleca, eis o seu remédio: vá e faça já o seu! Assim não restarão dúvidas e você já decide de uma vez por todas se vai continuar acompanhando esse blog ou se vai denunciá-lo como lixo internético.