quinta-feira, 3 de março de 2016

FELIZ OU VIVA?

Hoje me flagrei pensando forte em felicidade. Poderia achar que por coincidência (mas fatalmente não), já que nas últimas semanas tenho encontrado pessoas – mais precisamente mulheres – que estão às voltas com esse mesmo tema, cada qual do seu jeito, sua idade e uma história diferente pra contar. E aí me veio a lembrança daquele Mac Lanche Feliz. A tal felicidade infantil estaria contida numa caixinha que, fazendo vista grossa a qualquer ideia de boa nutrição, carrega uma receita certa de alegria pra toda e qualquer criança, a menos que seja filha da Bela Gil: nuggets de frango crocantes, batatinha frita quentinha, suco adocicado, um Danoninho gostoso e o tão cobiçado brinquedo da vez. Só que aí a gente abre a caixinha e vê que os nuggets são borrachentos e insossos; as batatinhas vêm pior que pinto de velho - frias e murchas; o suco é tão doce que você nem reconhece o sabor (e olha que aquela foi sua segunda opção, porque a que você pediu primeiro já tinha acabado); o Danoninho chega em temperatura ambiente, numa São Paulo de 30 graus à sombra, e o brinquedo é uma tralha mal pintada que vai ficar esquecida num canto do quarto dentro de 4, 3, 2, 1... Mas mesmo assim você continua fazendo a vontade dos seus filhos, pedindo a tal caixinha e sorrindo amarelo – afinal, você pagou pela ideia de um Mac Lanche Feliz e todos os elementos da tal felicidade macdonaldiana estão lá, certo? Então bora ficar feliz.

A gente às vezes pega no pé dos pequenos por insistirem na refeição de papelão, mas, do alto de nossa experiência madura, faz a mesma coisa com a vida. Ora, se seguimos o script do que todo mundo diz que uma pessoa precisa fazer pra ser feliz, por que cazzo daria errado? Estuda, se forma, trabalha, casa, tem filhos lindos, mora bem (ou tenta), viaja, trepa (ou tenta) e por aí vai. Por que cargas d’água isso não incluiria a gente no rol das pessoas felizes? Por outro lado, quem está infeliz e ainda não tabelou o tal script vai direto na listinha, só pra ver o que tá faltando: “ah, tá explicado! Eu ainda não tenho filhos!” ou “ah, óbvio: eu não encontrei o homem dos meus sonhos!”. E, mais uma vez, por aí vai. Enquanto os elementos da nossa caixinha de Mac Vida Feliz não estiverem completos, a gente vai achando que não se sente feliz e realizada porque ainda faltam os nuggets, o marido, a batata, o sucesso profissional, o brinquedo do mês. E quando a gente consegue finalmente conquistar o conjunto da obra, descobre que não era bem o que a gente imaginava.

Por que será que a mulherada anda tão infeliz? Ou, pior, por que será que a mulherada está se conformando com uma felicidade de mentira, murchinha e insossa, esquecida no canto do quarto? A primeira conclusão a que chego é que tá na hora da gente PARAR – não de se cobrar, que a cobrança gera superação pra caramba, mas de se CULPAR. Em vez disso, que tal se responsabilizar? Culpa é coisa de maria madalena - aquela mina insuportável que fica chorando pelos cantos e gritando "por que será que eu fiz issooooooo???" (been there, done that); já responsabilidade é conseqüência de quem fez e faz escolhas. E os efeitos de uma e outra na nossa cabeça – e na nossa felicidade – são bem diferentes. A partir daí, com mais consciência na cabeça e no peito, a gente precisa ficar alerta pra tomar decisões. E decidir, mudar, mudar de novo e de volta. Tá na hora de descer dessa cruz de santa-siririqueira-chibatada e experimentar um pouco mais a vida, sem medo do que os outros vão pensar – e sem medo de perder a ilusão besta de uma caixinha de papelão, mas fechada e segura, merci.

Em segundo lugar, chega de ouvir aqueles que culpam a gente por tudo. Porque, aí sim, existe uma linha tênue: quem TE responsabiliza por tudo não SE responsabiliza por nada. A porra toda vira culpa, por mais que o interlocutor, quer seja marido, namorado, ex-marido, mãe, pai, irmão ou amiga, queira chamar de outra coisa. E se você não tá a fim de calçar os sapatinhos de madalena arrependida, saiba assumir pra você as suas responsabilidades – e deixar de fora aquilo que, você sabe bem, não leva sua assinatura nessa história.


Em terceiro lugar – e talvez o mais importante –, pare de se definir pelo que as outras pessoas falam de você. Cada um tem uma opinião e uma experiência dos outros, mas ninguém sabe de você tanto quanto... Você. Então, a partir de já, não fale pra ninguém o que os outros acham de você. Simplesmente fale, você mesma, de você. Felicidade não vem em caixinha, não tem receita e nem é um estado constante na vida – ainda bem, senão a gente ia ser um cacho de banana esperando pra ser colhido, sem nada pra fazer na vida a não ser se sentir “feliz”. Mas busque seus momentos de felicidade – e entenda que a satisfação mais gostosa não segue padrões, não cumpre receitas e está na busca, não no resultado. É isso que faz a gente ser mais a gente e, no final das contas, mais VIVA – doa a quem doer.  

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