sábado, 8 de maio de 2010

Rainha de maio e seus desdobramentos

Para mães de primeira viagem

Diretamente do diário de bordo de minha primeira gravidez, quando esperava o grande Ismiggles, para as mães que pretendem engravidar em breve ou estão passando por isso agora. E para as que estão passando pela segunda, terceira, quarta in-utero-trip. Afinal, é sempre bom relembrar.

O mês de maio se tornou uma ovelhinha negra e amarga no meio do meu ano. Três meses de gravidez completos e uma felicidade sólida entre os dentes, dei de cara com um 30 abril que me lembrou o tema. No dia seguinte, feriadão de frio, faria dois anos que minha mãe se internara no Einstein para mais um tratamento escalafobético de seu tumor cerebral. No segundo domingo de maio, Dia das Mães, a bichinha já dormia um sono profundo e que, a gente saberia depois, não teria bem um fim. 19 de maio, comemoramos o aniversário do meu pai no quarto superluxo do hospital – ele, eu, uma pizza do Viena e uma garrafa de vinho; ela, dormindo. 23 de maio, a vida parou de respirar de vez. Seis dias antes de minha moça morena completar 54 anos e um resto todo de vida do lado de cá.

Desde então, bem sem querer, passei a odiar secretamente o mês de maio. Por mais que eu não goste de pontuar datas mórbidas no calendário (ao contrário de minha avó, que assopra velas e enfeita túmulos até no aniversário da primeira dentição), o maldito mês ficou com essa pecha de má digestão. E olha que minha mãe gostava de flores de maio, cantarolava bonito noite adentro e fazia festas homéricas ao som de boleros para brindar anos com meu pai. Mas em mim ficou a impressão besta de que choveu no meu piquenique. É aquela coisa lusco-fusca que os olhares diagoneiam e ninguém comenta, mas eu bem vejo – lá vêm aniversários de doença e morte, e eu querendo fugir de pedras tombais; lá vêm os 56 anos que não viraram a mesa, e eu sem paciência pra nada nem ninguém; lá vem o Dia das Mães com seus presentes e almoços felizes, e eu sem a minha.

Só sei que ando achando graça porque esse ano tem um quezinho a mais saracoteando no meu ar. Porque agora o tal segundo domingo de maio é também meu. Não sei ainda se a coisinha acaba com “a” ou “o”, se vai gostar do frio de maio e se vai ter mania de me escrever bilhetes tortos no Dia das Mães. Mas torço, pés juntos e olhos apertados, pra que esse mês passe logo. E, se for menina, pra que tenha os olhos bem pretos e um sorriso bonito de meia-lua. Aí vai se chamar Lenita, ouvir boleros velhos no colo do pai, pintar as paredes da casa e dar gargalhadas muito altas, daquelas que enchem a vida da gente de um não-sei-quê contente. Pra essa mãe aqui entender que tudo é novo e vale, mesmo, a pena.

4 comentários:

  1. Ah, minha mais nova escritora favorita... hehehe
    Maio pra mim, é um misto de sensações. Minha filha nasceu em maio (8 de, hoje, por acaso) e sinto uma certa nostalgia daquelas de doer o peito. Uns dias antes fico de chororô pelos cantos, depois sinto pelo tempo que passou, pelo tempo que vai vir, enfim, coisa de gente doida.
    Tenho pavor de dezembro, mas outra hora conto em forma de post no meu blog.
    (já passou por lá? rs)
    Beijão! E que maio passe rapidim ;)

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  2. (...)Fosse eu Rei do Mundo,
    baixava uma lei:
    Mãe não morre nunca,
    mãe ficará sempre
    junto de seu filho
    e ele, velho embora,
    será pequenino
    feito grão de milho.

    Pra vc deixo beijos a la Drummond porque isso é a única coisa que consigo escrever nesse momento.

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  3. E a gente vai entendendo cada vez menos como pode ficar tanto tempo sem se ver. Ainda quero sentar com minha Adriana, de mãe pra mãe e mulher pra mulher (mas sem Mariiiiisaaaa, pelamor!), pra conversar sobre a vida toda. Não tem problema: eu vou até aí. Promete que espera por mim?

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  4. Nossa, tava lendo o blog em segredo até agora, mas depois desse post, não deu.
    Quando a minha mãe, nesse ano, deixou de respirar eu também deixei em muitos modos. Pensei muito em você, lembrei muito da passagem da sua mãe.
    Espero que eu consiga, um dia, ser mãe sem a minha mãe.
    Um beijo.
    Thais

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