Enquanto um dorme no carrinho
O outro escreve poesias em danoninho
Viva que pintamos as paredes de azul!
"Deve ser isso que chamam de felicidade"
Dizem as olheiras fundas de uma mãe sem sono
Sem vaidade.
Tenho preguiça de fazer versos e contar sílabas
E preguiça maior ainda de lembrar das regras de rima
Penso dez, quinze, mil vezes na lista exígua do aniversário.
Olha que tenho tanto a comemorar.
Isminha fez dois anos - ninguém sabe, ninguém viu,
Tom nasceu, pegou meningite, internou, voltou inteiro - ufa. Quem foi que soltou essa bufa?
Foi Domingos, o maltrapilho. Tá sendo adestrado, quatrocentos merréis por mês.
Ismael trabalha dia e noite, noite e dia. O que tem pra jantar, Dona Maria?
Eu fico assim, Homem Aranha numa mão, pequeno faminto noutra.
Vinte e nove anos. Vinte e nove anos, ela diz!
Nunca pensei que pudesse ser tão feliz.
Nunca pensei que pudesse ser feliz.
Penso na minha mãe, lá embaixo da terra. A essa hora já deixou de ser pele e osso pra ser só osso e roupa.
Não me lembro com que roupa a enterrei, mas lembro que foi de tênis.
Porque ela andava pra cima e pra baixo de tênis
E porque o pai dela, meu avô, era igual.
Daí meu cachorro vadio ganhou o nome dele
Porque é peludo igual - mas meu avô não tinha pedigree.
"Ponto pra ele!", diz meu marido, do alto da cadeira de juiz
E eu nunca pensei que pudesse ser tão feliz.
Do alto da cadeira, as bolas passam
Os dias passam
As amizades passam.
Meu deus, onde foi que eu errei?
E passa a lista...
.
.
.
.
.
.
.
.
Caralho, meu deus. Só perguntei por perguntar.
Ainda bem que não acredito em você.
Tom dorme no carrinho, Isminha no sofá.
E o brusco silêncio que invade a casa dá vontade de chorar.
"Être chez quelqu'un" é estar na casa de alguém. Aqui você está "chez la maman": na casa da mamãe, com o perdão do "la" para os preciosistas da gramática francesa. Dicas de uma mãe que arrisca e nem sempre petisca - mas tenta, sem medo de ser feliz; depoimentos sobre o dia-a-dia de dois moleques que enchem a casa de um barulhinho muito bom; desabafos de uma mulher que tá aprendendo a merecer o título. E receitinhas e pequenas descobertas do mundo que deixam, desde sempre, a vida mais gostosa.
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Com o tempo a gente aprende que segurar o choro é bobagem.
ResponderExcluirHoje eu tô me permitindo chorar.
Seja pelo cachorro que morreu, pelo filho que está bem, pelo silêncio ou pela felicidade.
Que bom que você tá de volta...
Véia! kkkkk
Beijão
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMinha Amiga Poeta, espera a geral dormir, coloca mais uma dose e assiste uma porcaria na TV, ou viaja no vai vem de seres estranhos na Paulista, ou deita e fica imaginando de onde vem os barulhos.
ResponderExcluirMas lembre-se sempre que a dor no corpo, o stress e a vontade de gritar são sua medalha de honra ao mérito, seus parabéns pelo dever cumprido!
Beijo pra vc e pra turma!
Quando eu estiver em SP grito pra vcs!
Ainda bem que o mundo dá voltas...a gente vive aprendendo, chorando e rindo...
ResponderExcluirQuerida, seu poema me confirma o que eu já estava desconfiada (afinal, ainda não sou mamãe): que alegria de mãe é das mais simples e mais sinceras. Um beijo querida, que bom que estão todos em casa!
ResponderExcluirNossa Bi, que saudade das tua poesias... Descobri hoje o blog.. e como tenho que nem vc 2 miudos em casa vai demorar pra le tudo...
ResponderExcluirQuanta saudade... Nunca me esqueço de vc...<se <deus quiser ano vem volto pro Br e quem sabe consigamos fazer nossos pequenos crescerem juntos...
Beijos enormes