Sempre
achei fácil ser mãe. E explico o fácil: daquele tanto de avisos que gentis
senhôuras dão enquanto abençoam nosso barrigão, tudo sempre me deslizou com um
sossego gostoso, vida afora: amamentação, anos de sono picado, choros, dores,
meningite. Fraldas, luta pra tirar fraldas, o andar e o correr, tombos,
supercílios abertos em quinas de mesa, piolho. As primeiras crises e brigas,
decepções, abandono, corações partidos, coordenadoras de escolinha preocupadas, acessos
de raiva, gostos e desgostos de um e outro, evolução de personalidade: ei, mãe,
eu sou esse aqui.
Tudo tão bom porque vinha deles – e nada que viesse deles
poderia deixar de ser tão eles (no fundo tão eu, também, nesse emaranhado
bonito de pernas e vidas que faz alguém nascer de você). Quis educar meus
meninos para a certeza de que são livres pra ser, pensar e sentir. Lemos livros
de pequenos e grandes, falamos de assuntos de pequenos e grandes, pesquisei
junto, descobri junto, contei histórias de acertos e erros meus. Algo como “ei,
filhos, eu sou essa aqui”.
Acho que por isso nada nunca foi pesado, mesmo nos tempos mais
bagunçados. Rolava um bem-estar, de cá e de lá, por sabermos que dava pra gente
ser de verdade, mesmo que não concordasse em tudo. A beleza da vida tá
justamente aí, no amor e nas diferenças – e no amor pelas diferenças.
Hoje, às vésperas do meu décimo dia das mães, confesso que não
acho nada mais tão fácil. E quando eu mesma for uma doce colecionadora de
calendários amarelados, vou dar um único aviso, um só: zelem – mas zelem mesmo
– pelo que o mundo ensina para os seus filhos. E mundo não é só internet,
youtuber de boné, turminha de amigos. Mundo é família, é professor na escola, é
pai e mãe. Confiar que o mundo vai respeitar a cabeça e o sentimento de uma
criança é a maior ingenuidade – e o pior erro que a gente pode cometer.
Fraldas se trocam, sono se recupera, gripes se curam, acessos de
raiva se explicam, corações partidos se apaixonam de novo e de novo, diferenças
andam de mãos dadas. Já provar para uma criança que aquilo que ela aprendeu de
uma pessoa de confiança talvez não seja verdade – e que adultos, mesmo os que a
gente mais ama, são falhos e egoístas – é difícil. Crianças creem, crianças
repetem o que ouvem de quem é responsável por cuidar delas. Crianças acreditam
em quem diz que educa. Crianças são esponjas de quem tá mais perto, dia após
dia. E nem sempre vai ser você.
Então zelem – e nunca confiem o cotidiano da educação dos seus
filhos a ninguém. Os valores estão nesse dia-a-dia e as pequenas coisas, que no
fundo são as maiores, também. Não é questão de ter mais ou menos tempo livre,
mas sim de estar alerta e trazer pra perto quando rola aquele cheirinho de
maldade no ar. A leveza da infância deve ser o primeiro e
último pensamento de quem educa, numa vigília sem fim. Dependendo
de como for feito e por quem for feito, o estrago pode ser grande. Então zelem
– e amem, cada vez mais.